quarta-feira, 31 de julho de 2013

HIPOCRISIA PADRÃO FIFA E MULETAS







Esta concepção de um estádio de futebol ser transformado em moderno palco para contemplação de recatada e polida plateia é, sinceramente, um pé nos ovos. E se presta a servir como desculpa esfarrapada visando dar guarida a uma infinidade de arbitrariedades. Por este aristocrático entendimento, querem impor as falanges torcedoras (denominados “espectadores” ) nas partidas o estrito papel de acompanhar de maneira  contida o desenrolar das ações.  Todos acomodados passivamente nas respectivas poltronas, conforme manda o figurino. No caso da ARENA gremista são por demais conhecidas e comentadas algumas das descabidas restrições ao apaixonado público tricolor. Restando a sensação da proximidade do dia no qual o “guia da partida” será substituído na distribuição pelo livro “etiqueta na prática” da jornalista Célia Ribeiro. Pelo país da Copa do Mundo, faraônicas obras culminaram em lustrosos estádios, nos quais se acumularam tantas outras limitações igualmente estapafúrdias. E aí de quem se insurgir contra as novas normas ditas de conduta ! Do jeito que vai, não tardará para o acuado torcedor ser repreendido, intimidado por “orientadores”, seguranças e soldados do policiamento por simplesmente soltar a voz no grito de gol e, ato provocativo, erguer os braços festejando. Insistindo na inconveniente celebração não será surpresa se este mesmo torcedor, a exemplo da recente covardia que sofreu o gaudério gremista, for agredido e arrastado por uma perna. Quem sabe não serão também passíveis de punição os que no verbo amaldiçoarem os noves meses de gestação da parideira do árbitro ou as mães dos auxiliares do apito ? No mesmo enquadramento os que obscenamente gesticularem para os torcedores visitantes e xingarem impiedosamente a equipe adversária. O grande destaque, contudo, está nas questões relativas a segurança. E se o sujeito for flagrado com a cuia de chimarrão dentro do estádio ? Agora é também considerado material beligerante ? Vai ser espancado ? Vai ser preso ? Quais as medidas impostas aos infratores ? O fato é que esta gama de exageros vem na esteira do processo de elitização padrão FIFA nos estádios. Algo  que começa na extorsão das bilheterias e passa também por esta tentativa imbecil de padronizar (além das estruturas e serviços) o perfil e o comportamento do sujeito que sai de casa pelo hábito e prazer de ir à cancha para apoiar o clube do coração. Não, meu amigo. Ninguém é contra, no perfeito juízo, a regras de convivência: o torcedor tem obviamente seus direitos e, concomitante, inúmeros deveres até para poder reivindicar e cobrar o que lhe é devido. E ter responsabilidade nos atos significa não dar margem aos hipócritas de plantão. A turma que distorce, a turma dos rótulos, a turma das  generalizações. Afinal, esta tal de hipocrisia é imensamente mais beligerante que a fúria das arquibancadas e mal consegue se sustentar num par de muletas. Ah, e que se erga e tremule sempre a bandeira tricolor do Rio Grande. Não se permita mais a vergonha de ser maculada pela ignorância. 

@JorgeBettiol



domingo, 28 de julho de 2013

INOLVIDABLE ... NÓS SOMOS CAMPEÕES DA AMÉRICA !



"La libertad, primero que la literatura" - Simon Bolivar

O acordo com ressalva de alerta foi para não nos atrasarmos. A partida dos coletivos necessitava obedecer  os ponteiros do relógio para chegarmos à República Oriental do Uruguay com tranquilidade e prudente antecedência. Partimos do pátio do Estádio Olímpico e, graças aos retardatários, com ausência de pontualidade. Mas, nada comprometedor. Só aumentou consideravelmente a nossa ansiedade. Uma gurizada, espinha na cara, forrada de casacos, mantas e gorros. Bandeiras tricolores enroladas no peito, outras tantas firmes nas mãos. Conferido o mate e o vinho, subimos a bordo das naus repletas de eixos e rodas. O destino sabido e a tarefa ressaltada: navegar pelo estuário do Rio da Prata, confirmar a descoberta gremista e conquistar de vez a porção meridional da América. Tremendo desafio compartilhado pelos mosqueteiros Beto Diniz, Sandro “Languiru” Sauer e Caio.

Percorridas doze congelantes e despertas horas desembarcamos na capital dos aurinegros e albos, na pátria celeste libertada pelos treinta y três orientales comandados por Juan Antonio Lavalleja. E com folga suficiente (generosa, proveitosa) para um suculento “milanesa con papas”, um barulhento bloqueio de via anunciando a presença azul, preta e branca (na inesperada e saudada companhia de hinchas do bolso) num dos cruzamentos da 18 de Julio, cantoria pelas galerias do centro e, normal, recebendo apoios e desaforos dos locais. No deslocamento ao majestoso Centenário, aí o cenário da recepção mudou de tom drasticamente: antes, durante e finalizada a peleja (no texto dos 25 anos desta mesma celebração, postado no Ducker, os detalhes). Dentro, naquela imponente obra charrua, milhares de carboneros alentando, um sistema de som convidando os manyas a viajarem a Porto Alegre para o segundo embate e tudo regado a copos de Pilsen e Coca-Cola. Fumaceira danada e não exalada por conta do preparo de choripans ou panchos.  

Encrenca porque neste período, amigo leitor, disputar a Libertadores era revisar na marra o tratado de Tordesilhas, a cada partida um bochincho dos brabos. Era enfrentamento com a vizinhança castelhana no lombo do cavalo, a coice, no facão e contando (vá lá...) com alguma jogada improvável e genial.  Era de uma natureza beligerante a toda prova. Uma guerra implacável, inclusive dentro do contexto de outras guerras (regimes militares no Cone Sul, Malvinas, La Plata, Estudiantes ...), de epopeias e dramas muito superiores aos gerados pela marca da cal na grande àrea e alguns minutos de acréscimo. Não tinha Mercosul, vivente. Nem Aladi, nem o tal de “fair-play”, nem dezenas de câmeras de televisão monitorando lances e reações, nem milhares de celulares e recursos para testemunhar em tempo real todos os acontecimentos, especialmente o tratamento fidalgo destinado aos visitantes. E nem espaço e cultura (aqui reiterando) para capitão de equipe campeã usar tiara, condicionador nas melenas e creme facial para erguer taça envolta em chuva de papel laminado. Outra época, senhoras e senhores. Definitivamente, sem frescura.  

Quando naquela madrugada saímos do entorno do espetacular estádio mundialista (com um empate suado e auspicioso), propriedade da Intendência de Montevideo,  ingressando novamente na caravela que integrava a frota tricolor tivemos a convicção de que o triunfo seria nosso. E assim rumamos de volta a querida e abençoada Província de São Pedro: com o sentimento da iminente vitória. Esta emocionante e gremista história de 1983, com sua grandiosidade merecedora de ser idolatrada por todos os tempos, teve o merecido e glorioso desfecho no 28/07 no Monumental e trepidante Olímpico. A inesquecível imagem do xerife, do caudilho de Rivera erguendo o troféu (emblema do sacrifício, do drama e da luta na obtenção desta proeza) heroicamente diante do povo tricolor exultante e agradecido e sendo aplaudido por Américo Vespúcio, Cristovão Colombo, Simon Bolívar e José Artigas, pulsará pela eternidade no coração dos gremistas. Está gravada na alma, não passará jamais. Nós somos Campeões da América ! Inolvidable ...

@JorgeBettiol

sábado, 27 de julho de 2013

O SORRISO DO CUCA E OS BEDUÍNOS





Antes de tudo ser resolvido havia algo diferente. Dirigindo-se ao reservado, o técnico Cuca estava sorrindo. E naquele momento, antes do apito trilar para decisão, não parecia sorrir para mal disfarçar a tensão da derradeira partida. Enorme carga. O peso tremendo da imposição de (novamente) reverter um resultado, o dever inadiável de romper com mais de quatro sofridas décadas sem conquistas relevantes (as duas Taças Conmebol, no seu devido tamanho) por parte dos alvinegros mineiros. A desconfiança ao seu nome, os rótulos, as urucubacas e toda fama de atrair esta temível má sorte. Pois não é que o esperado e corriqueiro semblante melancólico, aquele ar triste e deprimido do Alexi Stival deu lugar a uma expressão de confiança ? Mas, quando a bola rolou - o leitor conferiu - não teve jeito. O desespero rapidamente desarmou o sorriso da face e acionou o franzir de testa e a cara de choro costumeira. Agarrado no rosário, suplicante a Santa estampada na camiseta preta e se consumindo até a última penalidade desperdiçada pelos paraguaios. Título ganho, esparramou-se o ex-meia gremista (nas palavras de Big Phil o mais completo com o qual já trabalhou), cujo maior título da carreira foi justamente no tricolor (Copa do Brasil ´89), sobre o gramado do Mineirão. Atônito, quase zonzo, celebrando sua inédita e sofrida conquista.

A trajetória dos atleticanos para finalmente cantarem de Galo além dos limites das Minas Gerais e serem ouvidos no Continente foi agonizante. Estiveram sempre no sufoco após a fase de grupos, no limiar de uma desclassificação. No nervoso jogo contra o Tijuana o embalo que faltava quando Victor nos descontos defendeu a penalidade que liquidaria com as pretensões mineiras. Passaram pelos leprosos de Rosário e na quarta-feira, de extorquidos 14 milhões nas bilheterias, houve escorregão, expulsão de adversário e gol de empate no finzinho da esperança, tudo numa conspiratória sequência. E sem querer tirar os méritos de quem os tem (e destacando o apoio do torcedor local), vamos combinar que os paraguaios foram de uma mediocridade a toda prova em Belo Horizonte. A brilhante estratégia foi se borrar defensivamente nos 90 minutos, embromar na prorrogação e assim garantir o vice-campeonato nas penalidades (sendo a primeira cobrança guarani, dentro deste propósito, um chute hilário). Deveriam, além da medalha de compensação, ser presenteados com rolos de papel higiênico. Por falar em comédia, o que dizer do desabafo de Vendidinho Gaúcho: “falem agora que estou acabado !”. Óbvio que está acabado! Ganhou a faixa nas costas dos demais. Mesmo com a tentativa de alguns jornalistas lustra bolas de insistir em romancear sua finada carreira. Tchê, na final e semifinal o que fez ? Sumiu. Desapareceu. Só sendo visto o desfile da arcada dentária, a encenação da mãozinha batendo no peito. Tamanha nulidade a ponto de ser sacado no jogo do Defensores Del Chaco. Tamanha nulidade a ponto de ter menos relevância que um travessão no Magalhães Pinto. Tudo foi infinitamente mais protagonista que o Assis Moreira na hora de ser sujeito, na hora de resolver. Toda reverência ao travessão. Este sim, protagonista. Este sim, forte e vingador. Marrocos ? Enquanto o fujão estiver cacarejando, estaremos com os beduínos. Que a tempestade de areia cubra todos os falsos heróis, cubra todos os desertores.

@JorgeBettiol







terça-feira, 23 de julho de 2013

O TRIBUNAL E O INQUISIDOR



Este é um país no qual a classe trabalhadora tem um cotidiano de provas e variadas expiações. O sujeito se esfola e, raramente, tem a compensação devida pelo seu dedicado e valoroso esforço. Entretanto, há estimulantes atividades laborais que fogem a rotinas estressantes, sem constituir fardo algum. E, não bastasse, além de bem remuneradas podem acrescentar indescritível prazer. Opa. Não pense o saliente leitor nas “casas de tolerância” ou na movimentada e regozijante vida nas esquinas. Falo especificamente do deleite no exercício de atividades no Tribunal do Santo Ofício da Justiça Desportiva. Mais precisamente ser um Inquisidor-Geral desta intolerante e punitiva instância. Ao menos é o que parece (por fatos públicos) pelo notório empenho, plena satisfação e incontido sadismo do Procurador Paulo “Torquemada” Schmitt. Esta sombria figura, de tempos em tempos, acende espalhafatosas fogueiras em busca do espaço midiático e da satisfação de suas vaidades. Coerente com o papelão contumaz “trabalha” com total falta de critérios, objetividade, tratamento equânime. Afinal, ser injusto e parcial é pré-requisito para as nebulosas intenções a que se presta.

O alvo do Procurador Medieval, desta feita, é o interminável Zé Roberto. O Zé do Grêmio. O Zé do veterano e turbinado motor 3.9. O Zé cidadão, referência no plantel tricolor e ídolo da massa. Pois este guri que é um escoteiro, um monge budista, um discípulo da Madre Teresa da Calcutá está sendo denunciado por jogada violenta. O lance (Grêmio x Botafogo) repetidamente e detidamente mostrado por imagens passa a margem do caput do Art. 254 do CBJD: “praticar agressão física durante a partida...”. Abrindo levianamente a brecha para os enquadramentos pretendidos. Lance infeliz para o adversário (cirurgia, afastamento), porém considerado pelo próprio prejudicado como “do jogo". Sequer exigindo as manifestadas desculpas públicas do  gremista. Aliás, na falta marcada, nem ao menos o amarelo reluziu. O que importa ? Schimittinho é sabidamente malvado, acostumado a punir jogador que faz careta, cospe no gramado, coça a genitália antes da cobrança do escanteio. Fosse possível impor punição exemplar ao capitão tricolor, o Inquisidor-Geral certamente iria sustentar não uma longa suspensão e consequente distância dos gramados, mas sim castigos do porte de um garrote, um  açoite de ferro, quem sabe a forquilha encaixada abaixo do queixo, ou até mesmo a famigerada roda de despedaçamento. Na excepcionalidade de um dia de generosidades, apontaria somente o banimento do esporte bretão, acrescentando 365 chibatadas e um pedido de desculpas na Basílica de Aparecida diante do Papa Francisco e da multidão de fiéis.

Ah, também não lhe agrada torcedor que proteste contra dirigentes de clube ou cartolas de Federações e Confederações. Compreensível. Afinal, a estrutura toda do Santo Ofício Desportivo é subordinada e paga pelo malcheiroso e nada distante Reino da CBF. Começando pela monárquica passagem do bastão da presidência de Zveiter pai para Zveiter filho, todos previamente indicados, avalizados outrora pelo Reizinho Teixeira (hoje no exílio voluntário, rindo a toa) e agora pelo preposto Marin. Apadrinhamento que segue no Pleno do Tribunal, órgão autorizado para na maior camaradagem “eleger” o persecutor-geral, o perseguidor de hereges. Boa esta função. Baita emprego tem o Schimittinho ! Sem concurso, sem processo seletivo, sem currículo resumido em uma lauda. Sem fila e ficha, sem entrevista, sem concorrência. Basta ser bajulador. Basta integrar a confraria. Basta ser amigo de quem não é amigo de ninguém e vive à custa do rico mundo do futebol. 


@JorgeBettiol



domingo, 21 de julho de 2013

NÓS, OS CARVOEIROS E BIG PHIL




Propaga-se um clima de terra arrasada: “tudo errado”, bradam alguns. E “aguardemos a temporada 2014”, dizem outros. A descrença se alimenta das derrotas. Multiplica-se justificadamente e torna-se pesada carga quando não se vislumbram atitudes diante do insucesso. E justamente a mudança de mentalidade e postura da equipe nos últimos confrontos indica que é o momento de revertermos todo e qualquer desalento. Certo, há desconforto e bronca. O adversário matematicamente caindo pelas tabelas, na véspera eliminado pelo modestíssimo Salgueiro-PE (Copa da Terra Brasilis) e abraçado na crise. Jogo, portanto, para atravessar o Mampituba numa braçada, voltar da mesma forma e com a obrigação cumprida. Não foi o desfecho. A partida em si teve ocorrências que poderiam ser utilizadas como atenuantes por Renato Portaluppi. A arbitragem, entretanto, não foi usada como cortina de fumaça. E nem deveria pela fragilidade do oponente. Só que o apito foi cretino e carrasco para o Grêmio e complacente com os locais. Nem por isso a infantilidade de Biteco e a imaturidade de Vargas (necessitando de outro tipo de orientação, além do riscado da pelota que passou a cumprir bem) escaparam da repreensão e do rumo da caixinha. A ressalva ao comandante é no desnecessário: não cabem apontamentos sobre questões de “logística”. Ficar no tático, técnico, físico e cognitivo do grupo é suficiente e dá larga pauta.  

Não é de hoje, nem de ontem que o Grêmio se desencontrou, dentro e fora de campo. Nas quatro linhas e no interior do vestiário estamos começando praticamente da estaca zero. Sem dúvida tardiamente, pois perdemos um tempo valioso com um comando técnico pífio, acumulador de fracassos constrangedores e incensado pela mídia amarga e oficiosa, dirigentes atuais e anteriores e por expressiva parte de própria torcida gremista. Passou. Novo momento. Inegável esta outra disposição, uma combatividade e um comprometimento antes inexistentes (se não de todos, da grande maioria). E quem comprovadamente não corresponde, não serve, que siga a destino e venham as reposições. Ressaltemos, neste instante, o positivo. Não podemos ficar só nisto, mas é o prólogo, é o dizer a que se veio, destacar e resgatar o manto defendido. Não tem solução mágica na vida, nem no futebol. Imediatismo ? É preciso trabalhar, lógico. Corrigir, seguir trabalhando, seguir corrigindo e trabalhar ainda mais neste passo a passo das aspirações. Na largada buscar os resultados ainda calcados na superação, na sequência acrescentar aos resultados os elementos de uma equipe segura: melhor armada, marcando de cima sempre, compacta, retomando e agredindo, intensa. Apta a brigar por posições e troféus. Neste sentido, não nos furtemos do apoio, expressão maior desta confiança que haverá de ser resgatada por toda gente gremista.


O Criciúma EC e sua torcida historicamente dispensam péssimo tratamento ao Grêmio e seus torcedores. No sábado, acumularam-se os relatos indignados de mais um destrato ocorrido no Heriberto Hülse. Esta rivalidade acentuada certamente se origina no distante ano de 1991 quando os catarinenses disputaram com o tricolor original a final da Copa do Brasil. Incidentes nas arquibancadas do Olímpico geraram uma irresponsável campanha institucional de “dar o troco” (na época se proliferaram fotos teatrais com indivíduos enfaixados segurando cartazes “eu estive em Porto Alegre”) no jogo de retorno. No qual o herdeiro do Comercial sagrou-se o campeão do torneio. E tchê ... vá entender. O correto seria a educação pela simples razão do maior título do futebol de Santa Catarina ter sido erigido pelas mãos (com o bom e velho regulamento decorado e debaixo das axilas) do gaúcho e gremista Luis Felipe Scolari. A exemplo do Sir Alex Ferguson em Old Trafford, Big Phil merecia uma estátua em tamanho natural na Arena e outra com as dimensões do monumento ao Padre Cícero no acesso ao estádio do “Tigre”. A República Juliana manteve-se por 113 dias, a infundada mágoa carvoeira (sem rejeições, mentiras ou trauma por uma conquista perdida, mas baseada em contenda isolada) está ultrapassando os 22 anos. Já passou, com folga, da maior idade.

@JorgeBettiol  

quinta-feira, 18 de julho de 2013

ORAÇÃO DE UM SECADOR


Senhor apague os refletores do Defensores,
Apague os refletores do Mineirão
Anoiteça, só por ora, o sonho do Galo na Libertadores
Não permita ao desconsiderado Olímpia fracassar
Repreenda, se quiser, a Luana Chamorro por pecar
Mas não deixe os Assis Moreira triunfar !

Não deixe, Senhor, o Ronaldinho enganador passar
Não deixe o estimado Victor salvar
Dê outras vitórias a este goleiro
Dê outros títulos aos bravos atleticanos e ao povo mineiro
Faça-os abraçar a glória quando não acompanhados da farsa, da dissimulação, da traição.
As mais retumbantes vitórias ao alvinegro das alterosas
As mais sonhadas,
As mais merecidas,
Mas, neste julho de 2013 por asco ao dentuço, postergadas
Senhor tire o pão nosso de cada dia,
Corte nossa àgua
Nos condene a fome e a sede
Decrete a solidão no Pampa
Nos bolichos e neste rincão
Sem fandango, gaita e salão
Faça de nós a mais desesperada Província
Nos mate, nos retire até a cuia e a erva mate
Mas não deixe, Senhor, os Assis Moreira triunfar !

Senhor dispare a inflação
Mingue nosso carreteiro, o aipim, a canha e o feijão
Aprisione até a nossa ilusão neste tal de brasileirão
Mas tranque o pulha quando ele quiser avançar
Abra buracos na grama verde onde ele pisar
Prende a trava da chuteira do mercenário
Não deixe nenhum marcador paraguaio ser tirado para otário
Não deixe o Vendidinho Gaúcho passar, Senhor !
Não deixe os Assis Moreira triunfar !

Quando o filho da Miguelina pegar a bola, Senhor
Desastrado seja o seu caminho
Cheio de tropeços e quedas
E de passes errados e cruzamentos mal feitos
E de ridículas cobranças de falta e secura de gols
Amaldiçoada seja a sua cara de pau e ar de bom moço !
E que nos seus pés haja incômodo, na Vila Nova alvoroço
Na sua cabeça bandana, remorso e desgosto

Ah, Bendita seja a derrota dos Assis Moreira !
E depois de tudo, Senhor
Depois que o Ronaldinho, o renegado, se ralar
Aí, Senhor, se julgar necessário nos tomar algo
Após tanta recompensa
Prive-nos de quase tudo o que quiser
Nos condene por esta mesquinharia, Senhor
Por querer ver o traíra e seu irmão inominável se ferrar
Mas não deixe, por favor, os Assis Moreira triunfar !

SE HOUVER UMA CAMISA COM O SÍMBOLO R10 ESTENDIDA NO VARAL DURANTE UMA TEMPESTADE, OS GREMISTAS TORCERÃO SEMPRE A FAVOR DO VENTO !

@Jorge Bettiol

* Adaptado, gremistamente, do original de Roberto Drummond ("Oração do Atleticano").

- Postado originalmente na manhã de 17/07. Por problemas técnicos (seria macumba ???) saindo do ar no início da noite de hoje. Retornando ao seu lugar.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A CULTURA ... IDENTIDADE E VITÓRIAS



*Feito. O relevante neste triunfo sobre os cariocas foi, além do pragmatismo dos três pontos, o resgate de uma concepção (cara, no caso do Grêmio) que aponta para importância de se ter um técnico a priori identificado com a cultura do clube que dirige. Ok. Pode render muitas acaloradas discussões, mas na modesta opinião de quem digita estas linhas é algo relevante e, não raro, decisivo. Se o sujeito não teve a oportunidade de viver a história da instituição que lhe outorga o comando de um vestiário, e nem ao menos tem o interesse, a capacidade de compreender o significado desta elevada dimensão (que engloba valores, identidade, memória) as coisas tendem a se complicar. 
*A chegada de Portaluppi demonstrou nos dois primeiros embates (reforçando uma das características de sua passagem anterior nesta função) que este grupo de jogadores (antes beirando um amontoado, sem nenhum padrão de jogo, coletivamente fraco e desmotivado) respira ares promissores nesta nova e estimulante atmosfera. Possuidor de ótimos talentos individuais está na hora do plantel gremista engrenar  bons resultados e, quem sabe, logo adiante as desejadas conquistas. Se há preocupações e o que melhorar ? Evidente. O sistema defensivo carece de maior solidez. Ontem, o time ainda ofereceu espaços, deixou flancos abertos quando da subida dos laterais, o setor de contenção desde o meio de campo sucumbiu na segunda etapa quando da tentativa de abafa do adversário e, lá na área, a zaga bateu cabeça em mais de uma oportunidade. É cedo. Porém, saudemos os avanços, o inegável progresso. Vargas, o demolidor de oponentes nas eliminatórias (um virtuoso pela seleção de seu país) foi finalmente ouvido, devidamente orientado e retribuiu com exuberante atuação. Outros tantos se destacaram. Quem sabe pelo fato de, nas palavras do sábio capitão Zé Roberto, estar à equipe conhecendo (nesta relação de sintonia entre o comandante e o clube) melhor o próprio Grêmio. Avante. Deixem o homem que domina o vestiário, o imaginário e o coração da gente tricolor seguir trabalhando. E siga ecoando nas bandas do Humaitá o canto dos torcedores, no ritmo de bumbos, exaltando a felicidade de reencontrar um ídolo e sofridas e aguerridas vitórias. 
    
@JorgeBettiol 

sábado, 13 de julho de 2013

PORTALUPPI, ZÉ ROBERTO, SEEDORF. AINDA SOBRE ESTRELAS ...



*A expectativa supera a imensidão da nova morada. Renato Portaluppi, uma vez mais, no comando do tricolor e diante da sua valorosa e vibrante gente. É hoje. Domingo de todos os caminhos serem trilhados (mesmo aqueles dos acessos que ainda geram murmúrios queixosos) orgulhosamente com destino as bandas do Humaitá. Até a pé, por certo, iremos. De bicicleta, busão, trem, na carona, no carro. Do jeito que for e para o que der e vier. Embora no preço exorbitante das bilheterias e na escassez de ingressos com valores mais acessíveis, não se tenha a mínima colaboração para propiciar a uma ansiosa massa de torcedores efetivamente estar com o Grêmio onde este amado Grêmio estiver. Igual, casa cheia e apoio incondicional do início ao fim. A maior e melhor torcida destes pagos garante (se também parte dela não for tolhida por revanchismos, generalizações e rotulações) o espetáculo.

*Após apoteótica e carinhosa acolhida, o pai da Carol e do Mundial tratou de trabalhar. Enfrentamento no Paraná, Barcos finalmente singrando em nova maré e um suado ponto acrescentado na tabela do mais importante campeonato disputado nestas terras de Pindorama. No retorno, mais trabalho, correções, preparação e a promessa da volta do espírito aguerrido que deve acompanhar toda e qualquer formação que defenda e sustente estas três cores. O Grêmio é transpiração, superação, chegada forte, pegada, ganas por vencer, busca incessante pelo resultado. Algo impregnado na sua história, marcado no seu DNA e, portanto, transmitido hereditariamente há orgulhosos 110 anos. Portaluppi, desde já, abre mão de “jogo bonito” e prioriza a vitória, os  três pontos. Não faz demagogia, não enrola com “projeto”. Não haverá de se esconder em estatísticas de posse de bola (da recuada a também jogada de uma lateral do campo a outra extremidade, indefinidamente, para denotar “superioridade”) e na conformidade (“futebol está muito igual’) diante de tropeços nos quais, mirando-se a trincheira gremista, não se perceber engajamento e   disposição de luta.  

*O respeitável adversário neste dia de estreia é o Botafogo de Futebol e Regatas. O tradicional clube carioca (líder nesta largada) traz para um duelo particular com o nosso inesgotável e competente Zé Roberto, outro fora de série: Clarence Seedorf. Em comum, além das qualidades futebolísticas, dois cidadãos do mais alto gabarito. Exemplares, dentro e fora de campo. Portanto, não teremos uma estrela solitária nesta tarde de ARENA, mas sim várias, quase uma constelação. Que brilhe a de Renato Portaluppi, a de Zé Roberto, a estrela da Nação Tricolor. Vamos GRÊMIO !!!

Em tempo: por falar em estrelas, resgato no post anterior texto publicado no Ducker por ocasião de um Grêmio x Botafogo. Neste 2013, aliás,  30 anos da morte de Garrincha e 30 anos da inesquecível conquista gremista no Japão e do protagonismo do homem gol. Nada, sabemos, apaga esta  história ....



Jorge Bettiol




sexta-feira, 12 de julho de 2013

AS ESTRELAS DA CAMISA SETE


                                                                   Crédito Imagem:Lance.Net

Quando, neste domingo, Manuel dos Santos firmar as travas das pesadas chuteiras de couro no glorioso e celestial gramado do Monumental da Azenha, será aplaudido efusivamente. Entrará surpreso e sorrindo, com a inconfundível simplicidade dos gênios, e seu olhar outrora tantas vezes parecendo perdido se fixará nas arquibancadas pulsando em azul, preto e branco. Responderá tímida e rapidamente aos inúmeros cumprimentos dos que, afoitamente, o cercarão e seguirá mirando a trepidante multidão gremista. Povo (sempre) confiante a espera do esquadrão tricolor. E quando São Victor, a muralha intransponível, adentrar a cancha conduzindo a equipe tricolor escoltada por dezenas de crianças exultantes, este homem (que entrou para história do futebol respondendo por Mané Garrincha) ficará boquiaberto. Alegre por ver e sentir tanto sentimento transbordando do coração da valorosa gente Imortal. A felicidade do homem das pernas tortas e jogadas desconcertantes promete ser, contudo,ainda maior... Ao perceber, ao seu lado, fardado e com a  mão estendida o guri de Guaporé, o astronauta de chuteiras, o cara que largou o pão para oferecer o vinho e a glória a Nação Gremista. 
Nunca se viram e, ironicamente, há tanto tempo se conhecem. Ambos de origem humilde, cobrados, rotulados, amaldiçoados e desregradamente vencedores (para desespero dos críticos) nos seus respectivos clubes. Dois rebeldes que subverteram e inovaram dentro e fora das canchas, demarcando efetivamente um antes e um depois na linha do tempo que tudo divide e hoje, neste inusitado 05/12, agrega. Sujeitos que, seja com dribles imprevisíveis e anárquicos, ou imprevisíveis e clássicos (soberanamente objetivos: secos, curtos, quase matemáticos) emprestaram a bola do jogo os seus talentos e a conduziram ao caminho do gol. Fizeram história: com trajetórias carregadas de puro deboche, fina ironia. Que o digam os inúmeros e desmoralizados marcadores, fileiras de atordoados adversários que sucumbiram nas quatro linhas esparramando-se sobre as marcas da cal. 
Que bela cena propicia este encontro. A charla prossegue amistosa, mas o árbitro faz o sinal de que é hora de começar a peleja. Pede a colaboração de todos que circulam pelo campo real e imaginário. Foi condescendente com o mítico encontro das camisas sete no círculo central. Neste momento, cenário totalmente envolto em nuvens.  Afinal, o apitador sabe (a exemplo do leitor...) que o número sete, em qualquer circunstância, merece respeito. Pois sete são os dias da semana, da criação, da preferência divina. O Shabat é no sétimo dia. E sete são as maravilhas do mundo antigo, os mares, as colinas de Roma, as notas musicais, os sacramentos, as virtudes e os pecados capitais. Garrincha é sete. Portaluppi (precisa dizer ?) é sete. Loucura é sete, sem cura é sete. 
Vai ser dado o pontapé inicial, senhoras e senhores! O espetacular Olímpico canta, estremece. O estádio flutua. Renato, a estrela gremista, acena. Mané (admirado com tudo que envolve o Grêmio), a estrela solitária, se despede ... com sete letras.  

Jorge Bettiol

quinta-feira, 4 de julho de 2013

OLÍMPICO: O REENCONTRO

crédito imagem: jbettiol

Naquela manhã de setembro o despertar foi distinto. Pela primeira vez, em semanas, uma folga no repetitivo trabalho. Não por acaso negociada para aquele (desejado) sábado. Tamanha era a expectativa que o despertador, companheiro inseparável e estridente do cotidiano, atrasou-se no seu chamado. Na verdade, a expectativa a fizera antecipar-se ao relógio. Dia abafado, com rasgos de luz que ousavam enfrentar nuvens carregadas. Nos vidros turvos da cozinha, talvez reflexos. Após um apressado gole de café, descartando qualquer mastigar, tomou cedo seu rumo. Desta feita, o destino não seria o coletivo abarrotado, o trânsito caótico rumo ao centro da cidade. Não haveria o caminhar metódico na calçada estreita, cotidianamente tomada por anônimos sussurros e ansiedades. Tampouco a chegada ao amplo saguão, à identificação com o cartão magnético junto à catraca (dispensando qualquer privilégio), o posicionamento na fila do elevador, o ingresso e aquela espremida e solene formalidade. Não ouviria o simpático e rotineiro “bom dia” da ascensorista. Não seria içada, com escalas permeadas por solavancos, ao topo do velho prédio para o começo de mais uma entediante jornada laboral. Este era, de fato, um dia diferente de todos os demais. Ao entrar no táxi trajava a camiseta tricolor preciosamente herdada. Tinha o dinheiro contado, uma tosse seca (dos castigos climáticos da Província de São Pedro) e os batimentos acelerados. Na véspera, fora desaconselhada a comparecer e ouvira reprovações severas da preocupada mãe: "Filha, mas o que tu tens na cabeça? Vais sozinha? E ainda por cima pesteada?" Respeitava os zelos domésticos, porém não trocaria aquele reencontro por nada: nenhuma restrição seria pertinente, coisa alguma seria obstáculo.

Ao pisar no sagrado solo da paixão, percebeu se somar a uma multidão vibrante. O som dos milhares que se aglomeravam em torno da imponente edificação se propagava com energia. Antes mesmo de chegar ao pórtico, teve dificuldades para se deslocar. A massa, ávida por saudar e celebrar o magistral templo gremista tomava todos os acessos, todos os caminhos e atalhos. Porém, não cogitou desistir. Queria avançar.  Decidida, rumou ao centro daquele turbilhão de emoções. Escutava músicas, oradores, cânticos apaixonados, crianças alegres e também impacientes, brados e aplausos. Enquanto tateava e prosseguia em meio à impressionante concentração do povo tricolor, levitava nas lembranças afetivas da primeira e inesquecível ida à cancha: da mão firme do avô querido que a conduziu, do calor daquela gente nas arquibancadas, dos gritos de gol, dos afagos da mãe ao contar em casa sua extasiante experiência. Depois houve um período de provações: de chuvas, raios e trovoadas. A  doença progressiva, resultando na perda da visão, a mais infame destas tempestades. Entretanto, particularidade incapaz de abater sua fibra, sua fé na vida e a devoção ao amado Grêmio. Mesmo quando ocorreu a mudança para pagos distantes das raízes, impondo afastamento temporário a tudo que sempre foi caro, jamais deixou de manifestar  seu  gremismo arrebatador. Tudo ao mesmo tempo agora. Tudo retornava, ecoando forte dentro do peito. Envolta nos pensamentos, sentia a mente e o corpo girando. Transpirava. Precisava estar ali, queria estar ali. Necessitava retribuir, agradecer ao colosso de concreto por tantas alegrias. Sabia que o abraço coletivo ocorreria em instantes, mas não queria aguardar todo cerimonial, precisava ir em frente. Embora cercada de contagiante entusiasmo, necessitava seguir avançando. O suor vertia pelo rosto. A cabeça repleta de efusivas recordações. Mais oradores. Saudavam o estádio, o aniversário do clube, a numerosa presença dos torcedores. O ano novo judaico, coincidentemente iniciando naquele final de semana, também foi aplaudido. Shaná Tová! Padre, Pastor, Rabino, Babalorixá. Grêmio ecumênico, Grêmio de todos. Milhares de vozes, chegada de bumbos, trompetes, novas palmas. Quase exaurida, instintivamente surgiu o gesto: ergueu um dos braços, de súbito, e fez reluzir aos céus o bastão de alumínio (seria um cajado?). Ato contínuo, aquele oceano de gente gremista, instintivamente foi se abrindo. Tal qual numa versão feminina de Moisés, um mar azul, preto e branco ofertou passagem.  Prodígio. Guiada apenas por imensa gratidão, a guria atravessou com êxito o pátio que fervilhava.  E assim, cansada, mas orgulhosa, emocionada, conseguiu encostar as mãos, repousando também a face naquelas paredes cilíndricas e pulsantes. Concreto carregado de vida, tijolos e materiais esfuziantes de história. Primeiro ofegante, em seguida estática. Assim permaneceu. Sorria. Sentia uma reconfortante paz. Algo que irradiava. Uma paz extraordinariamente olímpica, uma paz extraordinariamente monumental.

 Jorge Bettiol.