domingo, 31 de agosto de 2014

APEDREJEM A HIPOCRISIA !


Arte:Net


Ganhamos do tricolor da Boa Terra. Notícia boa, do campo de jogo, alvissareira. Vitória suada, necessária. Sofrida. E sofridos tem sido estes dias de penumbra e tempestade sobre as bandas da Azenha e do Humaitá. Desde a partida contra os santistas (na qual o jogo teve péssima arbitragem) segue a campanha midiática contra o conjunto da torcida gremista, centrando os ataques exclusivamente na instituição Grêmio.Na origem um episódio lamentável, repugnante, que pode e deve ser tipificado na condição de injúria racial. Estopim para sacudir os oportunistas que comandam e compõem a linha de frente da mídia sensacionalista.Não bastando insuflar uma reação persecutória contra a imputada (no momento servindo de bode expiatório da preconceituosa sociedade que, justamente, gera estes tipos), o tribunal dos meios de comunicação já acusou, sentenciou e condenou a fogueira da inquisição o clube, seus associados e os milhões de torcedores. Clube, aliás, de massas (realidade incontestável, por mais que toda amargura e muitos -dentro do próprio Grêmio- torçam o nariz...). Com inserção nos segmentos mais pobres e marginalizados da população. Agremiação de muitos, enraizada no cotidiano das paixões clubísticas das periferias. Congregando todas as etnias, ideologias, credos ... Todos os gêneros. Reunindo ao redor dos gramados, nas arquibancadas, nos bares, ruas e calçadas uma massa apaixonada pelas três cores. A fé.neste Grêmio plural. está na igreja, no templo, na sinagoga, na mesquita, nos terreiros de candomblé. Nos ateus, graças a Deus. Clube de multidões... 

Pois este Monumental Grêmio, de superação dos preconceitos, cuja rica história tem nas suas fileiras o genial Lupicínio Rodrigues  e também estampa com orgulho uma estrela dourada e negra no seu pavilhão (Salve Everaldo!), está sendo linchado pelos ditos formadores de opinião. Enquanto, simultaneamente,uma turba sedenta trata de incinerar a jovem acéfala que proferiu as desprezíveis injúrias ao goleiro Aranha (o qual está no exercício legítimo do seu direito, insurgindo-se contra tal agressão). Execrada. Escolhida para, isoladamente, responder por todo racismo que emana das entranhas desta sociedade elitista, segregadora e preconceituosa. A propósito disto, a obviedade: quem comete tal delito, de ofender a dignidade humana, tem que ser responsabilizado (a). Embora, neste Brasil de discriminações cotidianas, só quem efetivamente pague a conta por romper algum "regramento" social sejam os pobres (negros, em particular) saindo sempre ilesos de toda e qualquer imputação os abastados. Os nascidos em berço de ouro e os charlatões que vivem da política que o digam ! De qualquer forma, neste caso triste ocorrido na Arena, o pré-requisito elementar de um Estado Democrático de Direito está passando longe, muito distante. Pedir que seja apurado, que se dê o contraditório, a ampla defesa e tudo ocorra dentro dos trâmites da lei, e não no ritmo de uma imprensa irresponsável, é o mínimo a ser respeitado. 

Voltando ao clube. O mesmo está sendo acusado de ser omisso, ter participação nas condutas reprováveis de seus adeptos. Dentro das prerrogativas da instituição, além de todas as campanhas e também banimento da cancha (feita a identificação pelos inúmeros recursos disponíveis) o que mais é possível fazer contra tais infratores? Cabê sim, a cada torcedora e torcedor do Grêmio - cada vez mais - não deixar que uma minoria de boçais sinta-se a vontade para propagar sua ignorância e ódio. E colaborando para tal criando um ambiente que não abra margem para que palavras e cantorias sejam utilizadas de munição contra  as nossas três cores. Já não basta o que muitos de nós entendiam no tocante a referir a torcida do principal rival (fossem brancos, negros, homens ou mulheres) como "macacada". E tampouco os rubros exibirem faixas, camisetas, e o próprio SCI adotar este mascote e o utilizar de forma comercial. Importa (e fica muito difícil alguém sustentar entendimento contrário) o significado ofensivo, ultrajante,que tal palavra relaciona para a esmagadora maioria das pessoas ao redor do mundo. Portanto, que todos -não só os que integram organizadas -façamos esta reflexão para mudança. 

Porém, insistimos: o fato é que para os achacadores de plantão o preconceito e os respectivos atos discriminatórios (asquerosos, inaceitáveis) não são uma chaga aberta e uma vergonha de toda sociedade (que apesar de criticar o racismo, o alimenta e o mantém em todas as esferas), um problema notadamente estrutural. Os acontecimentos de Grêmio x Santos estão sendo tratados como um problema que parte do estádio e não do meio social. E tentar apartar esta circunstância da realidade objetiva de outros clubes (quantos casos ocorrem e com permissividade de quem hoje aponta o dedo...), entidades, espaços de convivência é uma tentativa esdrúxula de  separar a parte do todo. É ignorar o quanto, ainda, ambientes como o futebol reproduzem tristemente o que está arraigado na coletividade. Ou vão imputar na carga dos gremistas os mais de trezentos anos de escravidão e todas as mazelas persistentes desta herança vexatória? Esta mesma arrastada herança, vergonhosa, que persiste condenando a esmagadora maioria da população negra aos bolsões de miséria. De maneira sórdida segregando. Ditando aos negros e negras que conseguem vagas de trabalho receber, na média, 47,5 % menos que os brancos recebem pelas mesmas atribuições! Herança que chacina a juventude negra, eterno alvo de operações truculentas dos aparatos policiais. Algo deplorável. O racismo, esta vergonha planetária, ainda não foi superado nas quatro linhas e, muito menos, fora delas. É o nosso desafio. É o que denunciam as marchas, os protestos e os enfrentamentos de Ferguson (em resposta ao assassinato de Michael Brown), na América de Obama. E aos que histericamente aproveitam o ensejo para taxar o povo do Rio Grande do Sul como racista (preconceito para combater preconceitos?) lembramos: é o mesmo povo que (há quase  25 anos) elegeu um Governador  (antes, Prefeito) negro (e, diga-se de passagem, gremista) – sem entrar, por favor, no mérito de partidos – ao contrário de outros Estados da União que historicamente consagram políticos brancos e abraçam as mesmas velhas oligarquias apodrecidas. Há racismo incrustado no Sul ? Sim. E deve ser combatido. E possível generalizar ? A questão é ter mais ou menos ocorrências ? Não. É preciso que se denuncie e se elimine o racismo em toda parte!  No Sudeste. No Norte, Nordeste, Centro-Oeste. Racismo não é exclusividade de uma região, de uma localidade. Há apartheid social, há cidades fracionadas (a exemplo da capital dos cariocas), divididas, entre morros abarrotados de negritude e zonas requintadas de beira-mar, com calçadões nos quais desfilam peles alvas.   

O Edu Caminha (indivíduo iluminado e mentor do maravilhoso projeto Desejo Azul) relatou que neste final de semana esteve no RJ por conta de uma competição esportiva. Nesta maratona, indivíduo que trajava uma camiseta do Grêmio foi vaiado e hostilizado. Resultado desta canalhice midiática que bombardeia (no estilo da artilharia que caiu sobre Gaza) a instituição e seus torcedores. Os rotulando, os vinculando, coletivamente,a toda e qualquer impostura  discriminatória. O que mais está por vir ? Querem o banimento do Grêmio das Copas, dos Campeonatos, suspensões, multas ... Garrote? Talvez o aniquilamento de quem se apresentar na condição de gremista ? Na sexta-feira à noite, o programa “Linha de Passe” da ESPN (se denominando “#espntemlinhadepassepreta”) se dedicou a bater, unicamente,no Grêmio. Na mesa, assim como na maioria das redações esportivas brasileiras, somente jornalistas brancos (diga-se de passagem, a ESPN não tem nenhum jornalista negro nas suas destacadas bancadas ... Seria racismo?). Um deles, José Trajano, se superou ao sugerir que a moça flagrada pelas lentes poderia até não ter sido demitida, pois teria por parte de seus colegas negros da BM, quem sabe, uma resposta de outra natureza e dentro do próprio local de trabalho. Estupro em retaliação? Nojento. Criminoso. Desprezível. Muito diferente de um Juca Kfouri que teve e mantém a decência e a vergonha na cara na análise de tudo que está ocorrendo, destoando desta horda de aproveitadores dos estúdios e dos microfones. 

Igualmente asquerosa a matéria / editorial da  Revista Placar (finada de longa data para alguma serventia) que chamou a torcida gremista de “ a mais racista do Brasil”, utilizando frases do tipo “e quantos outros não devem ter sido igualmente discriminados diante da avalanche de ódio racial tricolor”, acrescentando “diversos jogadores negros açoitados pelos gremistas” e outras barbaridades. Todo este ataque introduzido pelo alerta de “que não é de hoje que Sérgio Xavier Filho, gremista e colunista de Placar fala sobre o racismo com notas nazistas que se espalha ao longo dos anos pela torcida do Grêmio.” Tais afirmações merecem o contundente repúdio dos gremistas! Mas a Placar, sinceramente,não surpreende. Filha ilustre da Editora Abril que nas suas publicações -ao longo de décadas- não pratica jornalismo. Somente panfletos de suas concepções e interesses escusos. Ao lado dos poderosos, de regra. Não por acaso seus fundadores (família Civita) estiveram envolvidos em inúmeras  falcatruas na Itália, Argentina e EUA, inclusive  em parceria com governos genocidas. Não por acaso a Veja surge no malfadado ano de 1968, sendo a empresa notória parceira da ditadura militar. Sendo sua cúmplice, sua apoiadora. Regime que perseguiu, prendeu, torturou e matou opositores. Utilizando-se de métodos perversos e técnicas nazistas contra quem pensava o país de forma distinta. A propósito de “notas nazistas”, Sérgio Xavier Filho poderia indagar a jornalista Miriam Leitão (cuja empregadora, a Globo, a exemplo da Abril, foi entusiasta e comparsa dos militares) sobre o que ela passou no cárcere.
As infâmias, retaliações e ameaças contra o GRÊMIO (e todos os seus torcedores) vão se intensificar nesta semana de clamor sensacionalista e reclames por uma implacável punição que dê satisfação momentânea ao tsunami de cinismo. Só está faltando decretarem o apedrejamento do Estádio Olímpico e da Arena. 
Que seja apedrejada, no verbo, toda hipocrisia. NÃO AO RACISMO ! JUSTIÇA ! 

@Jorge Bettiol

2 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito. De minha parte, nunca defendi a impunidade e nem vou entrar no rol dos bandidos-heróis.
Mas sempre vou defender a dignidade da pessoa humana e que as penas sejam proporcional ao ato.
A menina-bruxa-racista-gremista está sendo apedrejada por profissionais da imprensa de uma forma cruel.
Pena que estes mesmos justiceiros não fizeram o mesmo quando o filho de um dono de uma empresa de telecomunicações foi condenado, em Florianópolis, SC, por ter drogado e estuprado uma adolescente de 12 anos.
Isso é hipocrisia!

Carol Cerqueira disse...

Oi Jorge Bettiol, dia triste. O texto merecia ser lido na frente
dos auditores do STJD porque o julgamento tava armado pra nos prejudicar !!!!
#JUNTOSPELOGRÊMIO