terça-feira, 15 de setembro de 2015

AQUELE MENINO ...


Arte: Francisco Carlos da Silva

         A Baixada dos meninos... Ajudando a forjar homens e uma excepcional história...  

Aquele menino nasceu numa época de promissoras mudanças e transformações sociais. Na largada de um século no qual a humanidade revolucionou o seu modo de viver, trazendo inúmeros avanços e conquistas nunca antes imaginadas. Concomitante a marcha do progresso as tragédias das cobiças, os holocaustos (assim mesmo, no plural), as chagas da ignorância e suas dores. A civilização alternando barbárie, a barbárie disfarçada de civilização e assim seguimos...Sem aprender. Repletos de  feridas que insistem em permanecer abertas.

Mas, o assunto é o menino. O mesmo acaba de cruzar faceiro e moleque por estas linhas. Desceu do bonde e já disparou em desabalada carreira na direção da Rua XV de Novembro. Após, seguirá vigoroso pela  Voluntários da Pátria. Nem acena, tomado por febril ansiedade. Pois, ainda hoje (e sempre) neste dia que começou e nunca termina (tendo o azul do céu trajado um celeste nunca visto), seguirá praticando o desafiador esporte que certo dia -no promissor ano de 1903 - foi apresentado à pacata sociedade porto-alegrense por aqueles ingleses, alemães e lusos oriundo do Sul da Província.

Angariando simpatias e adeptos lá está o menino nos campos da Várzea da Redenção. Perseguindo o balão de couro com contagiante entusiasmo, sorrindo. Nem percebe o movimento dos ponteiros do relógio. E corre, e luta, e vence, e se supera. Ao dar-se conta respira a Baixada, no instante seguinte transpõem o pórtico do Olímpico. Faz história. Extenuado, satisfeito, mira o quanto já percorreu, o tanto que somou, os sentimentos que despertou geração após geração, ganhando multidões, fazendo-se admirado e idolatrado por uma numerosa e vibrante Nação. O menino, o leitor também o vê, está logo ali. Circula pelo Humaitá, pela Vila Farrapos. Traja as mesmas calças compridas, os suspensórios, o boné e, principalmente, calça as mesmas embarradas, pesadas e surradas botinas. Fortes e vigorosas botinas dos que com bravura construíram um passado, um presente e projetam um futuro cada vez mais azul, preto e branco. Aquele menino aniversariou. Tem, agora, 112 anos e segue jovial e destemido, desafiando o tempo, as adversidades, a incredulidade.  Aquele menino é orgulho meridional e mundial. É o que faz o Rio Grande cantar com amor as façanhas que devem servir de modelo a toda Terra. Aquele menino vive e viverá. Aquele menino é Imortal.


 @JorgeBettiol