quarta-feira, 2 de agosto de 2017

UM LEGADO MONUMENTAL...

Imagem: CP /Memória

O Monumental Hélio Dourado. Erguido aos céus  pelos  braços do povo tricolor.


O mês de Agosto iniciou com a lastimável notícia da perda do grandioso Hélio Volkmer Dourado: vencedor dentro e fora das quatro linhas. Referência máxima de gremismo pelos inúmeros serviços prestados ao clube. Devotado e fervoroso dirigente. Ousado, desafiador, idealista. Foi o homem que comandou a retomada da hegemonia estadual, fazendo frente ao poderoso time colorado da década de setenta, no emblemático e inesquecível ano de 1977. Esta conquista - no calendário de superações da rica trajetória tricolor - marca o salto simbólico (e bem-sucedido, o glorioso André Catimba que o diga...) para todos os demais triunfos. Rompendo divisas e fronteiras através do Brasil, da América e do Mundo. Erguendo e festejando troféus. O velho e valoroso dirigente foi o precursor da liberdade, tingindo outros mapas com as nossas cores e bravura. O que anunciou,desde cedo, que nossas façanhas serviriam de modelo a toda terra.  

Dourado era defensor nato e dedicado do azul, do preto e do branco. Porém, não fazia propaganda do seu incomparável gremismo e, muito menos, vivia de apelos midiáticos. Tampouco usufruiu de benefícios que comumente se valem os dirigentes dos clubes. Não se promovia, buscava –unicamente- o sucesso e o progresso do Grêmio. É de sua autoria a marcante e definitiva frase: “não devemos nos servir do Grêmio e sim servir ao Grêmio”. Contudo, mais além do que belas palavras, o filho da Dona Dagmar (sócio tricolor desde os 11 anos de idade) exercitava e projetava sua imensa paixão por meio de ações.

Obstinado pela ampliação e modernização da casa gremista (dando sequência ao trabalho do visionário e fabuloso presidente Saturnino Vanzelotti, outro expoente luminoso na galeria dos ex-presidentes) protagonizou a maior mobilização popular da história gremista com a campanha do cimento (que arrecadou inúmeros materiais de construção). Visitando 157 municípios no Estado, congregando gremistas de SC, PR e de outros rincões. Movimento que, apostando na força da coletividade tricolor, congregou milhares de apoiadores e nos trouxe o Monumental. Episódio merecedor da placa que, num dos acessos do Olímpico, resumia emotivamente o feito: “é preciso ser gremista para entender  esta força, esta motivação, este impulso que leva um torcedor a erguer um estádio”.

Não por acaso, lutou coerentemente (infelizmente criticado e ridicularizado por gremistas que hoje, na sua ausência, se veem obrigados a tecer elogios) pela manutenção de nossa raiz no saudoso e cantado Bairro da Azenha. Pretendia a reforma da estrutura, não o seu abandono e destruição. E, ao erguer a voz (impulsionado somente pelo desejo da soberania do clube, respeito ao torcedor e preservação da história da instituição) apresentou argumentos, propostas e projeto. Da mesma forma alertou sobre os termos do contrato para parceria / construção da Arena o que, não demorou muito tempo, comprovou-se verdadeiro. Em 2015, na celebração de mais um aniversário do Grêmio, não deixou de visitar a nova cancha reconhecendo sua imponência.

Dourado era exemplar na sua abnegação. Como bem lembrado por gremistas, nas redes sociais, foi o único dos ex-presidentes a não apoiar Flávio Obino e o único que se dispôs a colaborar quando do caos. No nebuloso ano de 2004 (segundo rebaixamento) meteu à cara a tapa numa gestão já desastrosa e desmoralizada. Desconforme e triste com o momento, não hesitou em aceitar ser vice-presidente de futebol quando outros –apesar do verbo – não se fizeram presentes. Dourado, mesmo sendo aparentemente conservador em vários aspectos da sua personalidade, foi vanguarda ao aceitar (em plena ditadura militar, época de rígido controle e repressão) o pluralismo, a diversidade. Incentivando a tolerância e o respeito com o acolhimento da Coligay.

Foi o proponente do futebol gratuito para toda piazada. Entendendo, perfeitamente, que os vínculos com a camiseta se criam e fortalecem frequentando os estádios. Alí, nos alambrados, nas arquibancadas. E que a cancha é para estar cheia: de gente, de alento, de entusiasmo. Repleta de paixão. Especialmente num clube de massas é preciso facultar o acesso para todos e todas. E Dourado (como poucos) enxergava, entendia, e integrava esta imensa força que emana do povo gremista. A dimensão de Hélio Dourado não cabe em nenhuma das muitas e merecidas homenagens recebidas em vida e sequer nas vindouras. Afinal, sabemos, o seu reluzente legado é Monumental...