sábado, 27 de julho de 2013

O SORRISO DO CUCA E OS BEDUÍNOS





Antes de tudo ser resolvido havia algo diferente. Dirigindo-se ao reservado, o técnico Cuca estava sorrindo. E naquele momento, antes do apito trilar para decisão, não parecia sorrir para mal disfarçar a tensão da derradeira partida. Enorme carga. O peso tremendo da imposição de (novamente) reverter um resultado, o dever inadiável de romper com mais de quatro sofridas décadas sem conquistas relevantes (as duas Taças Conmebol, no seu devido tamanho) por parte dos alvinegros mineiros. A desconfiança ao seu nome, os rótulos, as urucubacas e toda fama de atrair esta temível má sorte. Pois não é que o esperado e corriqueiro semblante melancólico, aquele ar triste e deprimido do Alexi Stival deu lugar a uma expressão de confiança ? Mas, quando a bola rolou - o leitor conferiu - não teve jeito. O desespero rapidamente desarmou o sorriso da face e acionou o franzir de testa e a cara de choro costumeira. Agarrado no rosário, suplicante a Santa estampada na camiseta preta e se consumindo até a última penalidade desperdiçada pelos paraguaios. Título ganho, esparramou-se o ex-meia gremista (nas palavras de Big Phil o mais completo com o qual já trabalhou), cujo maior título da carreira foi justamente no tricolor (Copa do Brasil ´89), sobre o gramado do Mineirão. Atônito, quase zonzo, celebrando sua inédita e sofrida conquista.

A trajetória dos atleticanos para finalmente cantarem de Galo além dos limites das Minas Gerais e serem ouvidos no Continente foi agonizante. Estiveram sempre no sufoco após a fase de grupos, no limiar de uma desclassificação. No nervoso jogo contra o Tijuana o embalo que faltava quando Victor nos descontos defendeu a penalidade que liquidaria com as pretensões mineiras. Passaram pelos leprosos de Rosário e na quarta-feira, de extorquidos 14 milhões nas bilheterias, houve escorregão, expulsão de adversário e gol de empate no finzinho da esperança, tudo numa conspiratória sequência. E sem querer tirar os méritos de quem os tem (e destacando o apoio do torcedor local), vamos combinar que os paraguaios foram de uma mediocridade a toda prova em Belo Horizonte. A brilhante estratégia foi se borrar defensivamente nos 90 minutos, embromar na prorrogação e assim garantir o vice-campeonato nas penalidades (sendo a primeira cobrança guarani, dentro deste propósito, um chute hilário). Deveriam, além da medalha de compensação, ser presenteados com rolos de papel higiênico. Por falar em comédia, o que dizer do desabafo de Vendidinho Gaúcho: “falem agora que estou acabado !”. Óbvio que está acabado! Ganhou a faixa nas costas dos demais. Mesmo com a tentativa de alguns jornalistas lustra bolas de insistir em romancear sua finada carreira. Tchê, na final e semifinal o que fez ? Sumiu. Desapareceu. Só sendo visto o desfile da arcada dentária, a encenação da mãozinha batendo no peito. Tamanha nulidade a ponto de ser sacado no jogo do Defensores Del Chaco. Tamanha nulidade a ponto de ter menos relevância que um travessão no Magalhães Pinto. Tudo foi infinitamente mais protagonista que o Assis Moreira na hora de ser sujeito, na hora de resolver. Toda reverência ao travessão. Este sim, protagonista. Este sim, forte e vingador. Marrocos ? Enquanto o fujão estiver cacarejando, estaremos com os beduínos. Que a tempestade de areia cubra todos os falsos heróis, cubra todos os desertores.

@JorgeBettiol







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