terça-feira, 23 de julho de 2013

O TRIBUNAL E O INQUISIDOR



Este é um país no qual a classe trabalhadora tem um cotidiano de provas e variadas expiações. O sujeito se esfola e, raramente, tem a compensação devida pelo seu dedicado e valoroso esforço. Entretanto, há estimulantes atividades laborais que fogem a rotinas estressantes, sem constituir fardo algum. E, não bastasse, além de bem remuneradas podem acrescentar indescritível prazer. Opa. Não pense o saliente leitor nas “casas de tolerância” ou na movimentada e regozijante vida nas esquinas. Falo especificamente do deleite no exercício de atividades no Tribunal do Santo Ofício da Justiça Desportiva. Mais precisamente ser um Inquisidor-Geral desta intolerante e punitiva instância. Ao menos é o que parece (por fatos públicos) pelo notório empenho, plena satisfação e incontido sadismo do Procurador Paulo “Torquemada” Schmitt. Esta sombria figura, de tempos em tempos, acende espalhafatosas fogueiras em busca do espaço midiático e da satisfação de suas vaidades. Coerente com o papelão contumaz “trabalha” com total falta de critérios, objetividade, tratamento equânime. Afinal, ser injusto e parcial é pré-requisito para as nebulosas intenções a que se presta.

O alvo do Procurador Medieval, desta feita, é o interminável Zé Roberto. O Zé do Grêmio. O Zé do veterano e turbinado motor 3.9. O Zé cidadão, referência no plantel tricolor e ídolo da massa. Pois este guri que é um escoteiro, um monge budista, um discípulo da Madre Teresa da Calcutá está sendo denunciado por jogada violenta. O lance (Grêmio x Botafogo) repetidamente e detidamente mostrado por imagens passa a margem do caput do Art. 254 do CBJD: “praticar agressão física durante a partida...”. Abrindo levianamente a brecha para os enquadramentos pretendidos. Lance infeliz para o adversário (cirurgia, afastamento), porém considerado pelo próprio prejudicado como “do jogo". Sequer exigindo as manifestadas desculpas públicas do  gremista. Aliás, na falta marcada, nem ao menos o amarelo reluziu. O que importa ? Schimittinho é sabidamente malvado, acostumado a punir jogador que faz careta, cospe no gramado, coça a genitália antes da cobrança do escanteio. Fosse possível impor punição exemplar ao capitão tricolor, o Inquisidor-Geral certamente iria sustentar não uma longa suspensão e consequente distância dos gramados, mas sim castigos do porte de um garrote, um  açoite de ferro, quem sabe a forquilha encaixada abaixo do queixo, ou até mesmo a famigerada roda de despedaçamento. Na excepcionalidade de um dia de generosidades, apontaria somente o banimento do esporte bretão, acrescentando 365 chibatadas e um pedido de desculpas na Basílica de Aparecida diante do Papa Francisco e da multidão de fiéis.

Ah, também não lhe agrada torcedor que proteste contra dirigentes de clube ou cartolas de Federações e Confederações. Compreensível. Afinal, a estrutura toda do Santo Ofício Desportivo é subordinada e paga pelo malcheiroso e nada distante Reino da CBF. Começando pela monárquica passagem do bastão da presidência de Zveiter pai para Zveiter filho, todos previamente indicados, avalizados outrora pelo Reizinho Teixeira (hoje no exílio voluntário, rindo a toa) e agora pelo preposto Marin. Apadrinhamento que segue no Pleno do Tribunal, órgão autorizado para na maior camaradagem “eleger” o persecutor-geral, o perseguidor de hereges. Boa esta função. Baita emprego tem o Schimittinho ! Sem concurso, sem processo seletivo, sem currículo resumido em uma lauda. Sem fila e ficha, sem entrevista, sem concorrência. Basta ser bajulador. Basta integrar a confraria. Basta ser amigo de quem não é amigo de ninguém e vive à custa do rico mundo do futebol. 


@JorgeBettiol



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