sexta-feira, 12 de julho de 2013

AS ESTRELAS DA CAMISA SETE


                                                                   Crédito Imagem:Lance.Net

Quando, neste domingo, Manuel dos Santos firmar as travas das pesadas chuteiras de couro no glorioso e celestial gramado do Monumental da Azenha, será aplaudido efusivamente. Entrará surpreso e sorrindo, com a inconfundível simplicidade dos gênios, e seu olhar outrora tantas vezes parecendo perdido se fixará nas arquibancadas pulsando em azul, preto e branco. Responderá tímida e rapidamente aos inúmeros cumprimentos dos que, afoitamente, o cercarão e seguirá mirando a trepidante multidão gremista. Povo (sempre) confiante a espera do esquadrão tricolor. E quando São Victor, a muralha intransponível, adentrar a cancha conduzindo a equipe tricolor escoltada por dezenas de crianças exultantes, este homem (que entrou para história do futebol respondendo por Mané Garrincha) ficará boquiaberto. Alegre por ver e sentir tanto sentimento transbordando do coração da valorosa gente Imortal. A felicidade do homem das pernas tortas e jogadas desconcertantes promete ser, contudo,ainda maior... Ao perceber, ao seu lado, fardado e com a  mão estendida o guri de Guaporé, o astronauta de chuteiras, o cara que largou o pão para oferecer o vinho e a glória a Nação Gremista. 
Nunca se viram e, ironicamente, há tanto tempo se conhecem. Ambos de origem humilde, cobrados, rotulados, amaldiçoados e desregradamente vencedores (para desespero dos críticos) nos seus respectivos clubes. Dois rebeldes que subverteram e inovaram dentro e fora das canchas, demarcando efetivamente um antes e um depois na linha do tempo que tudo divide e hoje, neste inusitado 05/12, agrega. Sujeitos que, seja com dribles imprevisíveis e anárquicos, ou imprevisíveis e clássicos (soberanamente objetivos: secos, curtos, quase matemáticos) emprestaram a bola do jogo os seus talentos e a conduziram ao caminho do gol. Fizeram história: com trajetórias carregadas de puro deboche, fina ironia. Que o digam os inúmeros e desmoralizados marcadores, fileiras de atordoados adversários que sucumbiram nas quatro linhas esparramando-se sobre as marcas da cal. 
Que bela cena propicia este encontro. A charla prossegue amistosa, mas o árbitro faz o sinal de que é hora de começar a peleja. Pede a colaboração de todos que circulam pelo campo real e imaginário. Foi condescendente com o mítico encontro das camisas sete no círculo central. Neste momento, cenário totalmente envolto em nuvens.  Afinal, o apitador sabe (a exemplo do leitor...) que o número sete, em qualquer circunstância, merece respeito. Pois sete são os dias da semana, da criação, da preferência divina. O Shabat é no sétimo dia. E sete são as maravilhas do mundo antigo, os mares, as colinas de Roma, as notas musicais, os sacramentos, as virtudes e os pecados capitais. Garrincha é sete. Portaluppi (precisa dizer ?) é sete. Loucura é sete, sem cura é sete. 
Vai ser dado o pontapé inicial, senhoras e senhores! O espetacular Olímpico canta, estremece. O estádio flutua. Renato, a estrela gremista, acena. Mané (admirado com tudo que envolve o Grêmio), a estrela solitária, se despede ... com sete letras.  

Jorge Bettiol

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